segunda-feira, 12 de outubro de 2009

irrita-me #10: dente partido


(não é o meu dente, não me ia expor dessa forma!)


Partir um dente deve ser dos acidentes mais irritantes que nos pode acontecer, e até aposto a minha vida nisso. Não dói muito, apenas incomoda. Fazemos figura de urso a comer e a sorrir. E depois é um balúrdio para corrigir esse defeito hilariante por nós recém-adquirido.

Já para não falar no desagradável que é enquanto não se arranja, porque além de sermos vítimas de chacota reparamos logo que aquele bocado de dente faz muito mais falta do que pensamos. Para começar é um buracão onde se afunda o lábio e se enfia a língua e que nunca nos faz esquecer da idiotice que cometemos. Depois a parte onde o dente foi partido é bem áspera, tentem por uma lixa no dente e se multiplicarem por 26 estarão próximos da impressão que faz passar com a língua sobre essa superfície, trazendo apenas nostalgia da polidez de um dente. Depois começamos a falar a assobiar e a mastigação torna-se difícil porque vemos a comida toda a escapar-se pelo buraco, por mais que tentemos é impossível fechar a boca – o que é desagradável. E também há uma enorme quantidade de hábitos que temos de abdicar, como roer as unhas, trincar uma maçã, morder e arrancar a linha da camisola… Já para não falar que é muita feio estar desdentado. E muito mais coisas que não desejo a ninguém.
E sei do que estou a falar, porque já parti muito dente. 4 vezes. Sempre nos mesmos incisivos superiores, logo os mais visíveis. Hoje foi a quarta vez que parto esses dentes, e talvez da forma mais estúpida.

Agora vou contar-vos a história dos meus incisivos! “Era uma vez um par de incisivos que foram logo dos primeiros a nascer. Queriam sair da gengiva e conhecer o mundo, portanto empurraram a dentição de leite para fora da boca. Mal eles sabiam o que lhes esperava, um rol de acidentes, de tragédia, de decepação, de poda, de colocação de massa. Nunca mais viriam a ser os mesmos…”

STRIKE 1: Estava eu no 3º ano e pedi à senhora professora (no 1º ciclo “stora” é heresia) para ir à casa de banho, desconhecendo o chão escorregadio que me esperava. Como era altura de aulas, as funcionárias não viram mal em lavar o pavimento. O tanas! Quando cheguei lá fiz o que tinha a fazer mas na altura de sair, o que é que aconteceu? Escorreguei, como podiam adivinhar! Mas não foi um escorregar para trás que qualquer um espera. Não, o meu foi para a frente! Sem tempo de reacção, não consegui proteger-me com os manápulos e caí com a cara. Mais propriamente com os dentes. E partiram-se. Na altura não foi muito, deve ter sido 1/10 por cada um dos 2 dentes da frente. Levantei-me sem choradinho, e fui para a aula, à espera que ninguém repare. Não sei porque é que não quis que ninguém visse, talvez por medo que gozassem ou que a stora (perdão, professora) ralhasse. Mas tive sucesso nessa missão de passar despercebido, porque acho que ninguém reparou nesse dia…

STRIKE 2: Já no 6º ano, se não me engano. Estava eu num episódio de brincadeiras infantis que só lembram ao diabo e a putos do 6º ano, e então dá-se a tragédia. Acho que era uma espécie de apanhada, quando que fulano empurra sicrano, que empurra beltrano, que me apanha desprevenido e me empurra a mim, feito um dominó. Mais uma vez não houve tempo de reacção até porque fui apanhado desprevenido, e mais uma vez uma queda para a frente, pelo que a minha cara entra em contacto com o chão. Desta vez a decepação foi maior, acho que os dentes ficaram reduzidos a 7 ou 8/10, e tinha dentes bem grandes! Ainda me foram dar os bocados de dente que eu tinha “deixado cair”, mas num episódio de, vá, nervosismo (daquele que já dá direito a choradinho) e raiva mandei-os para loooongeee…….. Não ia guardar como recordação deste magnífico episódio! E mais tarde, quando a escola me levou ao hospital, vim a saber pelo estomatologista que se tivesse os bocados que lancei fora bastava colá-los de volta. Ainda bem que os atirei, ficar com dois dentes em forma de bico e a arrepanhar o lábio de baixo é muito melhor

STRIKE 3: Já no 8º ano, brincadeira ainda mais estúpida. Cheio de bazófia decidi saltar um arbusto que estava num muro de 50 cm. O problema é que no momento do salto não vi um arame que passava sobre o arbusto. Escusado será dizer que o meu pé enfiou-se no arame, por lá se prendeu e assim com o pé preso e já no ar a queda será inevitável. E foi. E esta queda foi bem feia, porque além de ficar preso com o pé esperava-me uma queda de 50 cm, portanto a probabilidade de cair inclinado para baixo com a cabeça era alta. Probabilidade cumprida com sucesso, que mais uma vez vi os meus dentes da frente a impactar sobre o chão e desta vez a estilhaçarem-se. Devo ter ficado com 6/10 ou metade dos meus dentes da frente, que o resto já foi. Sorte foi eu fazer esta idiotice a caminho de casa, portanto o seguro pagou o restauro!!!!!!! Haja algo de bom em tanta coisa má… Quando concluí a colocação da massa, já a minha língua e os meus lábios há muito se tinham esquecido como eram uns incisivos normais…

Mas o que é bom tem de acabar!
STRIKE 4: Eis o partir de dentes mais estúpido. E foi muito simples até. Estava eu a almoçar quando me apetece temperar com molhos, portanto pedi daqueles pacotinhos de maionese e ketchup. Como a embalagem parecia inviolável comecei a roer o pacote, até que oiço um estalido cuja origem desconhecia, até sentir com a língua o dente sem massa com a língua e ver esse bocadinho colado com saliva ao pacote. E assim foi, parti pela última vez os dentes ao roer um bocado de plástico.

Como poderão adivinhar, já nem triste nem nervoso estou por me ter acontecido 4 vezes. É mesmo só IRRITADO. Porque se existe algo parecido com o karma o com justiça divina, gostava de saber o que é que eu fiz para merecer que os meus dentes se partam 4 vezes. Basta uma para aprender que é muito desagradável! Só num dia já estava a ver-me aflito a comer esparguete sem que ele escorregasse pela cova criada, ou a falar sem que as pessoas se riam da minha dentadura, ou a assobiar quando digo alguma palavra com F ou outras letras.

Mas desta vez aprendi a lição, tenho a massa embrulhada num guardanapo pronta para que o estomatologista ma cole ao dente amanhã! E até justificação tenho para faltar à aula de Português, e quem sabe ao turnos… É necessário ver as coisas mais positivas das enfermidades mais irritantes!

foto aqui